terça-feira, 26 de outubro de 2010

Limpando a área nas eleições: democracia, desigualdade e economia.

Oi pessoal, prometi que não postaria conteúdos de terceiro no blog a não ser em ocasiões especiais. Esta é uma delas, o texto que segue foi escrito por um dos meus mais brilhantes professores. Espero que apreciem.


Bruno Lazzarotti Diniz Costa


Doutor em Ciência Política pela UFMG



Nesta altura dos acontecimentos, a maior parte das pessoas decidiu seu voto, pelo menos para presidente. E acredito que devem ter boas razões (as suas) para suas escolhas. Existe por aí, em várias versões, a idéia de que minhas decisões são razoáveis e pensadas, as dos outros (particularmente as dos pobres) são emocionais ou interesseiras, instáveis e manipuladas. Como mencionou o Marcos Coimbra, o curioso é que são os que vêem a si mesmos e a suas posições como resultado mais puro do cruzamento transgênico de Thomas Jefferson, Descartes e Madre Teresa de Calcutá é que vêem as posições dos outros como oriundas de uma mistura de indigência intelectual e relaxamento moral. É uma atitude confortável, porque evita que eu seja obrigado a pensar ou enunciar minhas razões e, de quebra, permite que eu me congratule por ser um dos poucos porém bons deste país de selvagens. É atrás deste tipo de Viagra que estas pessoas estão quando consomem os “supostos” jornais diários. Eu não penso assim, acho que as pessoas refletem com os meios que têm e os critérios que julgam melhores e as opções de vocês são tão boas quanto as minhas.


Dito isto, compartilho com vocês minhas opções. Neste fim de campanha, para não variar, a oposição, ou seja, a imprensa (se você acha que a conversa de que a imprensa é parcial é trololó petista, leia este artigo aqui do Marcus Figueiredo, com pilhas de evidências) impingiu sobre suas vítimas, digo espectadores e leitores, sua agenda de porta de cadeia usual. Depois, os sofisticados-de-alto-nível-cosmopolitas-que-lamentam-o-baixo-nível-de-campanha não vacilaram em recorre e tentar pautar a agenda TFP-JimJones-reverendomoon. Não fica bonito mencionar estas coisas na vernissage, mas você sabe, para barrar os bárbaros alguma licença poética é necessária. Qualquer coisa que livre a direita (neste segundo turno, a extrema direita) de debater de verdade.


Portanto, para tomar uma decisão serena, acho importante retomar os critérios centrais da escolha (pelo menos os meus; se estes não são os seus, paciência).


E, como agora parece que não se pode discutir eleições sem mostrar sólidos princípios cristãos (senão você é satanista ou matador de criancinhas, como dizem por aí),os meus são estes:


“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. (Tiago 2:17)”
“mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras (Tiago 2:18)”
“tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. (Mateus, 25:34-40)”



Acho que um governo no Brasil deve ser avaliado sob 3 critérios básicos: reduzir significativamente a escandalosa desigualdade social e a pobreza; manter ou aprofundar a democracia e, se não der para melhorar, pelo menos não escangalhar a estabilidade econômica. Quem deu conta do recado nos 3 quesitos foi a coalizão liderada por Lula e pelo PT. E é esta a coalizão que pode ampliar estes avanços. O que eu vou mostrar é: mais democracia, menos desigualdade, menos pobreza, mais e melhores empregos, mais crescimento econômico, menos dívida pública, mais reservas internacionais e menos inflação. Os problemas brasileiros são enormes e houve vários erros de vários tipos neste governo. Mas se vamos ao fundamental (pelo menos para mim), fica muito claro onde está o compromisso democrático, a vontade política e a competência. Nada disto foi por acidente, e o governo levou muita paulada para fazer. Por isto, Dilma.


Senão vejamos.


Em primeiro lugar, a democracia. Qualquer um que abra um jornal ou assista à televisão, verá que ninguém é proibido de falar mal do governo. Como disse alguém (acho que o Celso Barros), uma pessoa mais desavisada pode ficar na dúvida se falar mal do governo não é obrigatório por lei. Aliás, os casos de censura ou de impedir publicação de notícias não foram promovidos pelo governo federal, muito menos o hábito de pedir a cabeça de jornalistas não alinhados, como quem vive em Minas Gerais sabe. As eleições foram respeitadas, governos de adversários não foram perseguidos, foram criadas CPI´s aos montes (ao contrário, por exemplo, de Minas e São Paulo) e o Congresso atuou com normalidade, com gente ameaçando dar uma surra no Presidente e tudo. A indicação para o Ministério Público respeitou sempre as indicações dos procuradores (ao contrário do período FHC) e nunca tivemos um engavetador geral da República. Ou seja, a democracia foi mantida, no que concerne o governo. Se o STF tivesse que tomar Regulador Xavier seria para excesso e não escassez.


Mas, mais do que mantida, a democracia no período foi aprofundada. Não só pelas políticas de reconhecimento (quilombolas e outras comunidades tradicionais, indígenas, mulheres, GLBT, entre outros), não só por não tratar os movimentos sociais como meliantes, como pelos espaços de participação. Para não estender demais, foram feitas no Governo 67 conferências com mais de 5 milhões de pessoas, mesmo levando cacete, como no caso da Conferência de Comunicação e de Direitos Humanos. Tenho plena consciência de que é preciso ir além destes espaços, mas isto não será feito por quem foi aquém.


Do ponto de vista da transparência e do combate à corrupção, o esforço é evidente, apesar da histeria que atualmente cerca o debate: o portal da transparência, carro chefe de um conjunto de iniciativas que colocaram o Brasil, segundo a ONU, entre os oito países com maior transparência orçamentária, a disponibilização de informações e indicadores sobre praticamente todas as áreas do governo, mesmo as menos favoráveis.


Quanto ao combate à corrupção, a dotação de condições de funcionamento efetivo da CGU fez o controle público e a articulação dos órgãos de controle mudar de patamar. Desde 2003, o Governo Federal aplicou punições expulsivas a 2.599 agentes públicos do Executivo Federal por envolvimento em práticas ilícitas, no período entre janeiro de 2003 e junho de 2010. Quanto à Polícia Federal, basta perguntar se, além do caso Lunnus (depois dizem que o PT aparelhou o governo...), alguém se lembra de alguma operação de porte da PF para combater a corrupção, evasão de divisas ou lavagem de dinheiro. Se alguém acha que o aumento das punições e das operações reflete o aumento da corrupção, deve sugerir a eliminação dos aparelhos de mamografia para reduzir a incidência de câncer de mama e ver se funciona.


Do ponto de vista da desigualdade social, não vou me alongar muito, vou só colar aqui estes dois gráficos do Marcelo Néri, da FGV.




O Gini mede a desigualdade do país (1 é o máximo, zero seria a igualdade completa). Vivemos o período mais longo de queda da desigualdade de renda da história. E em um ritmo médio de queda mais intenso do que os períodos mais intensos de redução da desigualdade que os países avançados viveram. Se você não acredita, no site do IPEA (WWW.ipea.gov.br) você encontrará um texto do Sergei Soares mostrando isto para você. Você poderia dizer que a desigualdade começa a cair em 2001, ainda no período FHC. Mas eu teria que responder que até 2003, a desigualdade cai porque a renda de quase todo mundo piora e a dos mais pobres é parcialmente protegida pelo salário mínimo, ou seja, você estava distribuindo perdas. No período Lula, o que ocorre é que a renda de todo o mundo cresce e a dos mais pobres cresce muito mais, a ritmos chineses, como dizem, ou seja você estava distribuindo ganhos, não perdas. E o mais impressionante é que a renda Inclusive no ano de 2009, com a crise monumental (que ainda detona meio mundo), a desigualdade caiu no Brasil. Dê uma olhadinha aí embaixo para você ver:






Ainda é muito, muito, muito alta. Mas quem você acha que tem condições de reduzi-la mais (e será cobrado por isto)? Quem ancora na redução da desigualdade sua legitimidade ou o pessoal que até ontem chamava o maior programa de transferência de renda do mundo de “bolsa esmola” e reclamava que o programa incentiva a preguiça e a indolência?


Porque esta redução não é resultado do acaso ou apenas do crescimento econômico. 3 elementos foram fundamentais: transferência de renda, particularmente Bolsa Família, salário mínimo e mercado de trabalho.


Sobre o BF, ele respondeu por um pouco menos de 1/3 da queda da desigualdade. Sobre ele, é importante dizer algumas coisas:


• Comparado com programas semelhantes do México e Chile, ele tem uma focalização excelente (ou seja pouca gente que deveria ser atendida não está sendo e pouca gente que não deveria ser atendida recebe), a um custo bem mais baixo; portanto é mais eficiente. Se você não acredita, veja aqui.
• O Bolsa Família não estimula a vagabundagem ou a acomodação, conforme crê o pensamento da Casa Grande brasileira sobre o que ainda julga sua Senzala . Não há diferença significativa na taxa de ocupação dos beneficiários do Bolsa Família em relação aos não beneficiários nas mesmas condições. Este artigo, que analisa com evidências sólidas, conclui: “Desta forma, não se pode afirmar que o PBF é responsável por gerar dependência em relação a rendimentos desvinculados ao trabalho”. O que, aliás, não tem nada de surpreendente: você deixaria de trabalhar porque ganha 100 reais? Mas na Casa Grande o pessoal acredita que os pobres têm este desvio de caráter para o vício e a indolência, ao contrário dos bem nascidos, não é?

• Segundo avaliação patrocinada pelo Banco Mundial (como se sabe, este braço infiltrado do petismo internacional, solerte e insidioso), o Bolsa Família aumenta a matrícula das crianças beneficiárias em 4,4 pontos percentuais, comparadas às não beneficiárias; aumenta a progressão escolar em 6,0 pontos percentuais ; está contribuindo para reduzir as variações regionais relacionadas ao percurso escolar dos alunos de famílias mais vulneráveis; tem efeitos importantes na manutenção das crianças de 15 anos ou mais na escola; a chance de uma menina de 15 anos continuar freqüentando a escola é 19 pontos percentuais maior se a família dela participar do Bolsa Família
• Segundo a mesma avaliação, as mulheres grávidas das famílias do PBF tiveram 1,5 mais visitas de pré-natal que mulheres grávidas de famílias não-beneficiárias; o estado nutricional das crianças em idade pré-escolar (0 a 6 anos) residentes em domicílios beneficiários do Bolsa Família melhorou entre 2005 e 2009 em relação aos padrões internacionais, considerando sua altura e peso; a participação no Programa Bolsa Família aumentou em 15 pontos percentuais a probabilidade de uma criança receber todas as seis vacinas necessárias até os 6 meses de idade (ou seja, o perigo vermelho está envolvidos na compra da consciência futura dos recém nascidos; este pessoal pensa longe...).

• Não mais que 20% das intenções de voto de Dilma Roussef, segundo Marcos Coimbra, do Vox Populi, provêm de domicílios beneficiados pelo BF. Ou seja, não é um mecanismo de compra de votos, como circula por aí. Em resumo, é um programa bem implementado, com efeitos importantes sobre a desigualdade de renda, sobre a escolarização, sobre a desnutrição e a saúde, principalmente das crianças.
Quanto ao Salário Mínimo, a política de recuperação recente subiu o piso de remuneração e contribuiu para reduzir as distâncias enormes no mercado de trabalho. O acordo feito com as centrais sindicais, que prevê um aumento que preserve o valor e incorpore o crescimento do PIB per capita no ano anterior. Isto permitiu, ao longo dos dois mandatos do Presidente, uma valorização real (já descontada a inflação), de 54%, sem aumentar a inflação do período, nem avacalhar as contas da previdência, já que isto se fez com aumento dos empregos formais.


E o trabalho e o emprego? O governo não estimulou a vagabundagem, mas estimulou o trabalho? É só olhar estes dois gráficos:






Durante o Governo de Fernando Henrique, o saldo de empregos criados não passou de 5 milhões em oito anos. No governo Lula, chegaremos fácil aos 15 milhões. Vou repetir, porque o Indio da Costa pode não ter entendido: FHC: 5 milhões; Lula 14 milhões. É até constrangedor. Fica mais bonito na figura, olha só:




Isto não é obra do acaso, mas de um esforço enorme de combinar políticas sociais eficientes, intervenção no mercado de trabalho, democratização do crédito e do consumo e investimento em áreas intensivas em trabalho, como construção civil. E agüentando cacete da imprensa e da oposição, o que é quase uma redundância, nas circunstâncias. Ou seja, depende de colocar o combate à desigualdade e à pobreza no centro da intervenção pública. Em que governo tucano isto foi feito? Eu mesmo respondo: nenhum. Nem os dois do FHC e nenhum governo estadual. Houve e há políticas e programas bem sucedidos nos governos tucanos em várias áreas, mas estamos falando aqui de coisa diferente: qual o centro do esforço de governo? Quanto esforço foi feito? Neste quesito, sinto muito, não dá para comparar.


O resultado é este horror aí embaixo:




A redução mais impressionante da pobreza na história do Brasil. Mais impressionante ainda porque, no auge da crise econômica, em 2009, mais de 1 milhão de pessoas deixaram a pobreza no Brasil. Como diz o Celso Barros: “Rodrigo Maia e Sérgio Guerra, escrevam isto cem vezes para aprender”.


Pois bem, mas isto poderia ter sido feito avacalhando a economia. Vamos ver. Claro que no item crescimento econômico não resta dúvidas sobre quem fez mais:




Precisa dizer mais alguma coisa? Isto enfrentando a maior crise econômica desde 1929 e o mundo todo na maior pitimba! E ainda tem gênio por aí para dizer que foi sorte. Então olhe só:




Ah, pois é, fez isto, né, mas avacalhou as contas públicas, farra fiscal, coisa e tal. Pois veja aí embaixo:




Veja bem: os tucanos entregaram o país com uma dívida pública líquida de 60% do PIB, com privatização e tudo. É a responsabilidade fiscal do Governo Lula que vem baixando a dívida. Depois do susto causado pelos gastos necessários ao combate à crise de 2009, já retomamos a trajetória de queda e Lula entregará o governo com uma dívida de 41%. Faça as contas e veja quem tem responsabilidade fiscal.


De dívida externa, não vou nem falar, para não cansar vocês, mas olhe aí as reservas internacionais:




Mas e a inflação! A inflação! adivinhe quem manteve a inflação mais baixa? Acertou quem disse o sapo barbudo. Entre 99 e 2002, a média de inflação foi 7,78; entre 2003 e 2009, a média foi 5,78. Portanto.


Em resumo, mais democracia, menos desigualdade, menos pobreza, mais e melhores empregos, mais crescimento econômico, menos dívida pública, mais reservas internacionais e menos inflação. Os problemas brasileiros são enormes e houve vários erros de vários tipos neste governo. Mas se vamos ao fundamental (pelo menos para mim), fica muito claro onde está o compromisso democrático, a vontade política e a competência. Nada disto foi por acidente, e o governo levou muita paulada para fazer. Por isto, Dilma.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Resenha de Tempo e espaço como fontes de poder Social

Por Renato Paulo Nicácio Pedrosa



Texto Original:


HARVEY, David. Tempo e espaço como fontes de poder social In HARVEY, David. A condição pos-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. ed. São Paulo: Loyola, 1993. Cap. 14 p. 207-218



RESENHA


Segundo Santos (2001) David Harvey, o autor do texto resenhado, iniciou sua carreira na Geografia Política no final da década de 1960. Foi professor de muitas e importantes universidades estadunidenses (a partir de 1957). Nos “últimos” anos concentrou seu foco de pesquisa na pós-modernidade, assim como as demais pesquisas de ponta em Geografia Política.


Nascido em 07 de dezembro de 1935 no Reino Unido, tendo o ensino e a pesquisa como principais atividades profissionais. Autor de posição ideológica de esquerda, sua análise é recheada da oposição capital-trabalho, considerada por ele natural.


Harvey (1993) inicia sua obra expondo a idéia de que o controle do espaço é uma fonte essencial de poder social. E que esta forma de poder sobre esta variável se inter-relaciona com outras delas: o tempo e o capital, também fontes de poder. Podendo ser entendidos também como componentes do poder de ordenação social. Para chegar a esta posição o advento do capitalismo trouxe em seu bojo avanços na mensuração do tempo e do espaço. No que eu acrescentaria a evolução das formas de mensuração do capital. O autor analisado segue então dando exemplos de como o domínio sobre uma das variáveis mencionadas serve como ferramenta para alcançar o domínio sobre as demais. Neste ponto ele introduz a temática da definição das regras sobre o tempo, o espaço e o capital; que no fundo expressa a divisão de classes e antagoniza interesses. Apontando que a “hegemonia” da ideologia e da política depende do contexto material e com isto do tempo e do capital.


Segue demonstrando a apropriação, pela “burguesia”, dos avanços em relação à medida do tempo, inicialmente guardadas, melhoradas ou criadas por ordens religiosas. E demonstrando que tal qual ocorreu com o tempo, medidas como o mapeamento do mundo pelas navegações criou a divisão da Terra entre os detentores do capital. Nesta perspectiva comenta fatos históricos acerca do alto valor social e econômico dos mapas gerados à época e as formas como eram protegidos e roubados. Neste contexto comenta como o dinheiro só tem sentido quanto situado no tempo e no espaço.


Insistindo na visão de oposição do capital ao trabalho, Harvey (1993) sinaliza os conflitos entre os grupos detentores de cada um destes supostamente diferenciados recursos. E comenta que tais conflitos ainda hoje estão presentes opondo administradores e trabalhadores. Em que ambos os lados situam-se em um equilíbrio delicado com avanços de ambos os lados, sendo que o proletariado geralmente o faz pela via informal e os administradores pela formal. Embora ocorram grandes protestos e tentativas violentas de se impor a disciplina, com abusos flagrantes dos detentores do capital.


Na tentativa de controle dos recursos (tempo, espaço e capital) são, como mencionados, utilizados um ou dois destes para alcançar o(s) remanescente(s). Mas o autor menciona também que este embate não se dá apenas entre as classes, mas também no interior da classe burguesa. Na qual seus elementos se engalfinham para alcançar mais destes recursos de poder utilizando estes próprios recursos como meios de ação. Para isto cita competições entre estradas de ferro no século XIX. Creio que Harvey esqueça-se, porém, de compreender ou mencionar que assim como há embates dentro da própria “classe burguesa” o há dentro da classe “proletária”. O autor aponta as contradições dos “beneficiados” pelo capitalismo, mas é míope em relação às contradições dos “explorados” por ele. Aponta os fundamentos burgueses das crises, mas ignora elementos operários destas. A não ser nos momentos em que sua atuação é organizada ou, no mínimo, consciente.


Neste tocante introduz uma sutileza que reforça meu argumento anterior: compreende que não só o domínio sobre algum recurso de poder (tempo, espaço ou capital) é um meio para dominar outro dele como também a influência sobre ele. E, em minha visão, não há ninguém que possa melhor influenciar o tempo, o capital e o espaço do que alguém que está cotidianamente envolvido com ele. E esta influência do proletário não é somente positiva, mas também faz desta “classe” tão responsável quanto a “outra” pelas mazelas sociais.


O autor acrescenta que ao domínio do espaço acompanha o domínio sobre a política local, ou seja, sobre a formulação das regras sobre todas as variáveis citadas.


Todavia, menciona Harvey (1993), o trabalhador constata a realidade de luta de classes e a partir da Primeira Internacional Comunista passa a transferir (somar) os recursos de poder entre os membros da mesma classe. Ainda que estes estivessem dispersos por setores da economia, funções, etc. Isto se deu para que ganhassem capacidade de domínio que os recursos de poder e com isto pudessem influenciar as regras o que levaria a um sucesso na conquista de novos recursos de poder. Logo o autor comenta sobre as especificidades do movimento operário em atuar em momentos, tempos e contracenar com tipos diversos de capital. Argumentando que diferentes contextos necessitam de diferentes ações e diferentes influências e domínio sobre os recursos de poder.


No entanto “constata” o fato de que durante a história do capitalismo, o domínio geral das variáveis, dos recursos de poder, estavam na mão da burguesia e isto a levou ao seu sucesso atual. Em sua explanação dá exemplos sobre a primeira guerra, a qual classifica de guerra de interesse de “burguesias nacionais” – o primeiro ponto em que este autor esboça não interpretar a realidade através da análise “monocromática” simplificadora de classes idênticas, com interesses idênticos em, no máximo, contextos diferenciados. Também cita outros fatos históricos, principalmente em relação à atuação interna dos Estados Nacionais.


Por fim Harvey (1993) corrobora a tese marxista de um materialismo histórico e do conflito entre a classe proletária e a classe burguesa. Menciona a tentativa imposição de disciplina e ordem e sua contestação, principalmente através de movimentos sociais organizados.


Conclui que os donos do capital, neste momento confundidos com o próprio, dominam os demais recursos de poder, em grande parte pelo domínio superior do espaço. Embora existam fortes “resistências” locais, mas que não lhe fazem ameaça de fato. Determina que as práticas (e regras) em relação ao tempo e ao espaço nunca são neutras, sempre são condicionadas a interesses sociais (de classe). E que de fato tempo e espaço são determinados e legitimados socialmente. Afirma que a força dinâmica do capitalismo atual tanto define quanto torna instáveis os significados e as relações entre tempo e espaço.



Eu creio que embora o capítulo resenhado tenha relevante e significativa importância para a compreensão das variáveis (tempo, espaço e capital), seu conteúdo é exageradamente parcial. Mergulhado na vertente marxista que lhe inspira sem crítica profunda.


Percebo grande contribuição do texto no sentido de que uma vez já sendo consenso que o capital reflete o espaço (o material), também mostra claramente que o capital reflete também o tempo (o intangível). E o faz de forma não quantitativa, mas sim qualitativa.


Fica faltando, no entanto, um modelo estruturado e determinante da força potencial e efetivada destas variáveis perante o contexto social e entre si.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Democracia ou Oligarquia?

Segundo Arnaldo Jabor na CBN (Quarta, 06/10/2010) 8 milhões de pessoas votaram em "fichas sujas", pessoas EM PROCESSO DE JULGAMENTO pela elite burocrática insulada dos bacharéis em direito. Enquanto 2 milhões de pessoas impuseram sobre todas as outras a lei "ficha limpa", que impede que alguns candidatos (aqueles condenados por órgãos colegiados) sejam votados.

É evidente que nós queremos apenas as melhores pessoas no Congresso da Nação. Mas quem deve decidir que pode e quem não pode ser votado? Os próprios eleitores no íntimo de suas decisões individuais, ou uma elite burocrática insulada sem nenhum mecanismo de Accountability?

Não seria muito mais democrático apenas obrigar que os eleitores fossem informados pela condenação do candidato? Talvez eu esteja errado. Mas o fato de que pelo menos 8 milhões de pessoas discordam desta lei não mostra que o assunto deveria ser levado no mínimo a plebiscito? Logo deverão aparecer os crimes eminentemente políticos e muitas pessoas honestas, como algumas que foram presas durante a ditadura, não poderão ser votadas. A liberdade se come pelas beiradas!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Propaganda Combativa

Imagem da propaganda da Nissan

Foi incrível como a Nissan lançou uma propaganda provocativa, inteligente e com argumentos comprováveis contra suas concorrentes. Se não é anti-ética por expor dados verdadeiros, resta saber se funciona para atrair público para o carro da Nissan.
Tendo a crer que sim, pois a mim atraiu ao site, fiquei curioso. Mas não vou comprar carro nenhum. Será que gerou e está gerando mais vendas?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Fontes de Poder

--- Formas Elementares
O Anel - O Capital
A Espada - Força Militar
O Livro - O Conhecimento

--- Forma Intermediária
O Aperto de Mão - A Diplomacia

--- Formas Avançadas
A Foto - A Imagem, o que sentimos e esperamos
O Corpo - Os Instintos Primitivos
A língua - a programação neurológica que rege nossas ações

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Se os 'governos' brasileiros fossem administrados com metade da preocupação, sonho, flexibilidade, profissionalismo e foco em resultados que os nossos times de futebol; nós já seríamos um país de primeiro mundo."
Renato Pedrosa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Caso Pimenta Neves

Ontem eu assisti na televisão (arg) um relato dramático da situação atual no caso Pimenta Neves no qual a família conseguiu 400 mil reais do assassino, mas que na verdade deveria ganhar 1 milhão. E para dar ênfase ao argumento ainda colocaram os pais da jornalista morta como debilitados pela ausência dos valores.

É evidente que o fato de Pimenta Neves estar fora da cadeia até hoje é chocante. Mas os familiares estão preocupados em fazer justiça ou executar um bom investimento?