quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Crédito

Clama-se que no Brasil tudo se espera do governo e que a iniciativa individual não existe! E como não há de ser assim se tudo quanto se refere à ação do capital, desde que este se aglomera para qualquer fim de utilidade pública ou particular, em que a liberdade das convenções, devia ser o princípio regulador, esbarra-se logo de frente com péssimas leis preventivas, e quando estas não bastam, a intervenção indébita do governo aparece na qualidade de tutor? E o que diremos do crédito, essa alavanca magna da civilização, que tem a missão de desempenhar 95% das transações em que assenta a vida econômica das sociedades modernas? O crédito ou está entregue ao regimen do privilégio, ou não existe fora dos limites da força individual em que sua ação é necessariamente fraca, em um país novo, que não tem tido tempo de converter em capital realizado senão uma parte mínima de seus recursos naturais: não pode ele dar um passo entre nós sem encontrar-se com essas leis preventivas que sufocam a liberdade de ação.

O fato, pois, que tanta reprovação encontra de tudo esperar-se do governo, é conseqüência necessária do regimen legal a que entregaram o país os que o têm governado.

Veremos se as reformas prometidas trazem à governação do Estado menos sabedoria e melhor senso.

A ação do crédito e do próprio capital achando-se sitiada no Brasil pela legislação financeira que oprime – daí nasce o clamor pela intervenção do governo quando as necessidades batem à porta, e como no caso presente, com tal força que ameaça fazê-la saltar, isto é, operar a ruína dos melhores e mais legítimos interesses da sociedade brasileira!

Crédito territorial, juros baratos, é o clamor uníssono do mais legítimo interesse do país, a produção. (MAUÁ, 2011, p. 207-208).

MAUÁ, Irineu Evangelista de Souza, Visconde de. Autobiografia. ed. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2011. 334 p.