domingo, 27 de outubro de 2013

Primeiras Reflexões sobre Alta Política no Brasil #1

Eu penso que esquerda e direita são conceitos tão velhos que não fazem mais nenhum sentido nos dias de hoje. Afinal subsidiar milhões para empresários sem metas de competitividade e escolhê-los por critérios obscuros é de esquerda ou direita? Para mim seria de direita. Mas o que significa quando se faz isso ao mesmo tempo que se amplia a renda do trabalhador e do mais pobre? Para mim significa que não é mais uma questão de direita e esquerda. É uma associação dos setores conservadores-aristocratas (pensem nas cortes desembarcando com D. João VI para ter uma boa imagem) que são horrorizados com a concorrência e a competição por quebrar a ordem natural da sociedade estamental e dos setores coletivistas-estatistas (socialistas via de regra, embora seja um conceito prático e não teórico, pois na teoria os socialistas buscariam o comunismo onde a liberdade seria plena e não haveria Estado) que têm horror ao "caos" de uma sociedade auto-organizada sem um líder bondoso a determinar, para o bem de todos e para a igualdade plena, a função e papel de cada um na sociedade, escolhidas pela sua vontade de cima. A prova disto é ver grandes empresários engajados em algum partido com a sigla socialista e com a meta de socializar os capitais. Embora eles jamais socializem grandes propriedades, apenas eventualmente algumas pequenas propriedades em prol do "interesse público" de construir uma estrada ou algo assim.

Na minha visão quem realmente foi expurgado da cena política brasileira foram os liberais, os libertários e os anarquistas. A política liberal que criou a democracia, gerou a separação dos poderes e os pesos e contrapesos da disputa política, fez a justiça ser cega para tratar todos igualmente (e o próprio conceito de igualdade perante à lei ou a definição de leis abstratas que só têm validade para fatos ocorridos após sua criação e que indistinguem os cidadãos), deu direitos iguais para todos (inclusive de propriedade que antes de defender o grande, proíbe a apropriação do pequeno pela força do grande) foi, esta sim, caçada no Brasil.

E não importa que a palavra liberal tenha, nos Estados Unidos e por motivos indefiníveis, invertido parcialmente seu significado; ser liberal não significa, para mim, ser libertário nem ser anarco-capitalista, nem ser anarquista, nem ser comunista.

Ser liberal significa estar alinhado com algumas ideias históricas como as que Rousseau professava ("o homem nasce bom e a sociedade o corrompe"/ Há a necessidade de um contrato social para legitimar a ação do Estado, "O homem nasce livre, e em toda parte é posto a ferros", etc.), com as que Adam Smith e outros brilhantes economistas clássicos/liberais professavam, Kant (principalmente suas ideias sobre a ética prática) e alguns práticos como Mauá e JK.

Sim, JK, porque na minha visão ser liberal não está no tamanho do Estado ou do gasto público, mas no respeito às regras, no estímulo à concorrência, na liberdade de agir dentro delas e de questioná-las quando perderem o sentido.

E mais importante de tudo, para mim, ser liberal é defender e continuar o Iluminismo, ou seja, fomentar a mais livre troca de ideias e permitir as experimentações (desde que sejam éticas no sentido que Kant lhes dá) sem obrigar-lhes a se enquadrar em ideologias e dogmas pré-concebidos. Outra característica do liberalismo é considerar cada ser humano importante. Característica essa menos importante em termos globais que o iluminismo, mas essencial para a sua existência (onde um indivíduo poderia questionar o consenso social se ele é menos que o grupo que implementou o consenso?).

Enfim, ser liberal significa ser defensor das liberdades, não só pelo valor intrínseco que elas carregam (e elas carregam sim enorme valor e bem estar em si), mas pelos efeitos práticos na vida e no desenvolvimento humano que elas geram.

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