sexta-feira, 18 de maio de 2012

Debates - Inflação

(Testando um Novo Formato de Postagem)

Eu:
Na minha opinião o Governo não está sendo sério no controle da inflação.
18 anos após o plano real e ninguém reduz as metas de inflação. Já deveríamos estar rodando no centro da meta a muito tempo e o centro da meta já deveria ser 3% ao ano.

Meu amigo, Rafael Rosset:

A inflação na China em 2011 foi de 6,5%. Na Rússia, 6,1%, e na Índia, 10%. Mesmo na Zona do Euro, tradicionalmente reduto de baixa inflação, em 2011 atingiu 3,5%, isso em meio a um cenário de forte retração. Diante do contexto mundial, nossa inflação está até baixa. Por outro lado, o que você acha que o governo pode fazer nesse momento para conter a inflação? A maior parte da economia está indexada, de sorte que boa parte da inflação é inercial. Não dá pra mudar isso sem renegociar contratos. Aumentar a taxa de juros não influi no preço alto das commodities, que por sua vez impacta no câmbio. Também não vai impactar o setor de serviços, que tem sido o grande vilão da inflação no Brasil. Se o governo interfere no câmbio, como tem feito, forçando o real a se desvalorizar, a inflação vai aumentar. Acho que a virtude desse governo é justamente não querer resolver tudo de uma vez. A inflação está talvez mais alta do que deveria, mas sob controle e em linha com o resto do mundo.

Em alguns momentos no passado precisamos tomar medidas mais incisivas (fazendo um grande superavit primário, por exemplo) por uma questão mais simbólica, uma vez que não tínhamos credibilidade no mercado externo. Precisávamos provar que estávamos dispostos a nos sacrificar para honrar nossos compromissos. Isso agora mudou, e não precisamos de uma dose de remédio que ponha o paciente a beira do coma, como em outros tempos.

Eu:
A China é uma ditadura que explora seus trabalhadores para enriquecer a "nação" em benefício daqueles que detém o poder (os donos do poder são aqueles únicos que usufruem a riqueza). A Rússia vende o que além de petróleo e gás? Seu parque industrial é inferior ao que ela teve no passado. A Índia é um país com grande exclusão social. É isso que queremos ser ? Não da minha parte.

Agora vamos à Zona do Euro. Mesmo em forte crise econômica - estourada pela crise dos Estados Unidos, mas cuja a origem vem de um sistema de moeda única mal desenhado (o que é normal, afinal eles são os pioneiros) - a inflação deles não passou de 3,5% a.a. Vejo isso com os olhos contrários aos seus. Mesmo com uma forte crise (cenário inverso ao nosso) a inflação deles continua baixa.

Diante do contexto Brasileiro (muito melhor do que o de vários outros países em crise) nossa inflação está muito alta. Nós neste tempo de vacas gordas temos uma inflação maior que os EUA e a Zona do Euro em tempo de vacas magras !

A verdade é que a inflação baixa não é um luxo que se dá direito quando a economia vai bem, inflação baixa é uma das causas de um desenvolvimento econômico sustentável. Mais do que isto, inflação baixa ajuda a combater problemas sociais. São sempre os pobres os menos protegidos dos efeitos danosos da inflação.

O que o governo pode fazer? Para começar ele pode desindexar nossa economia, como você mesmo sugeriu. Há muita coisa que pode ser desindexada sem que se quebrem contratos. O próprio governo indexa muita coisa, ele poderia começar fazendo a arrumação para dentro para depois fazer para fora. Quer um exemplo? Vários pagamentos não-salariais do governo estão indexados ao salário mínimo. Mais do que isto, a inflação inercial é consequência e causa. Se tivermos uma inflação mais baixa a necessidade de indexação vai cair. Quanto mais baixa for a inflação, menos você vai querer corrigir qualquer coisa por ela.

Muitos serviços tem produtos concorrentes. Por exemplo, você pode contratar várias pessoas com pás e nivelar um terreno ou pode passar um trator (1 produto reduziu a quantidade de serviços em um pacote deles). Ou uma máquina de lavar pode dispensar uma empregada doméstica, você pode ir a uma barbearia ou comprar um aparelho de barbear e fazer sua própria barba. Além disto há alguns serviços que podem ser importados, como por exemplo a criação de sites ou cursos de idiomas (que podem ser prestados até por nativos via internet).

Logo é uma falácia pensar estaticamente em inflação de serviços. Embora alguns serviços sejam difíceis de serem substituídos por produtos ou importados muitos podem. Estes serviços em que pode haver concorrência são uns dos segredos do desenvolvimento deste milênio. (Aliás, com a exceção das matérias primas, e alguns produtos básicos como roupas, quase todo produto industrial vem para substituir um serviço de computadores até barbeadores elétricos).

Então voltamos à questão, como o governo poderia reduzir a inflação? Ele poderia promover um choque de importação, facilitando a importação de bens (principalmente desburocratizando a importação e, assim, abrindo o país). Um choque de importação mataria dois coelhos com uma cajadada. Reduziria a inflação pela maior oferta de bens (mesmo que a minha teoria sobre produtos e serviços estivesse errada, como a inflação é uma média, uma maior disponibilidade de produtos diminuiria a inflação). A importação promoveria uma maior saída de dólares, evitando a entrada que valoriza nosso câmbio. Melhoraríamos o câmbio para os exportadores e controlaríamos a inflação apenas importando mais! E, desta forma, nosso povo seria mais rico podendo consumir mais, nossas indústrias teriam mais competição e assim se tornariam mais produtivas.

Outro ponto, nosso problema de serviços se corrige melhorando a produtividade no setor, ou seja, precisamos de mais e melhor educação. Em suma, precisamos de uma educação mais produtiva.

O Superavit primário fez mais bem ao país do que aos mercados externos. Muito antes de por o paciente à beira do coma deu a um atleta um fôlego extra para ter mais sucesso nos mercados globais.- Veja como estamos hoje ? Pior ou melhor? Não é um remédio é um suplemento vitamínico muito bom. E é por isso que eu acho que já passou da hora de alcançarmos o superavit nominal.

Para quem não sabe (e isso é para outros eventuais leitores, não para você Rafael); o superavit primário significa APENAS que o governo gasta com despesas não financeiras menos do que ele arrecada com receitas não financeiras. Só que nosso país tem dívida. Ou seja, é como uma pessoa que deve o cartão de crédito. Logo ele precisaria fazer o superavit nominal - ou seja deveria arrecadar com todas as receitas mais que todas as suas despesas e assim fazer uma poupança para uma eventual futura necessidade (um desastre natural por exemplo).
Como não pagamos todas as nossas dívidas ano a ano a dívida cresce (pois precisamos de pegar TODOS OS ANOS mais dinheiro emprestado). E isso é MUITO perigoso.

Se fosse uma pessoa o governo seria alguém com uma antiga dívida no cartão de crédito (que ele fez em épocas de total irresponsabilidade) e que hoje gasta menos do que ganha, mas a sobra não dá para pagar todos os juros do cartão de crédito, fazendo com que a dívida aumente todos os meses.

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