domingo, 16 de setembro de 2012

Poupança e Crédito


Sobre Desenvolvimento e o sistema de Crédito no Brasil:

Ao contrário do que diz a "pretense of knowledge":
Não é a cultura que faz com que a poupança no Brasil seja baixa.
São as taxas de retorno do capital baixíssimas, imensas assimetrias de informação e riscos contratuais envolvidos que desincentivam os poupadores. Mas acima de tudo o problema está nas taxas de retorno. Quando alguém poupa na caderneta de poupança o retorno de até 0,526% é baixíssimo e frequentemente perde para a inflação (ou seja, guardando o dinheiro hoje é quase certo que no futuro ele valerá menos do que se fosse consumido hoje - um total paradoxo).

É isso que não se conta nos programas de economia. Frequentemente, ao contrário do que prega a teoria clássica (e por causa das assimetrias de informação), títulos com maior risco como CDBs têm rendimentos líquidos menores que a poupança (e não raro os rendimentos nominais já são inferiores).

Do outro lado do sistema, na ponta, os juros para os tomadores são altíssimos. 3,18% ao mês na média para o crédito pessoal e 8,73% na média para o cheque especial. Para quem está investindo e tem garantias mais que suficientes (geralmente pede-se 120% de garantia) as coisas não são muito melhores: 2,83% ao mês na média de desconto de duplicatas e 5,88% na conta garantida. E atenção: aqui não se está levando em consideração taxas de abertura de crédito, taxas bancárias diversas, impostos e outros penduricalhos que se postos na conta fariam o custo do dinheiro explodir.

Lembrem-se que a média usada aqui é sempre muito perversa. Tanto no investimento quanto na tomada de capital sempre há aquele cliente especial que tem contatos, amigos e meios de pressão. Estes recebem acima da média e tomam abaixo da média e, para compensar, a grande maioria anônima toma dinheiro emprestado com juros acima da média e recebe rendimentos de sua poupança abaixo da média.

Desta forma nosso sistema é metódicamente construído para desestimular, ao mesmo tempo, poupança e empréstimo e nos tragar com violência para a subutilização do capital reduzindo assim bem estar e riqueza.

Pior do que isto é só o orgulho pateta que temos do nosso sitema financeiro. AH! Mas aqui não há crises, nem bolhas: claro, só tem a perder quem tem alguma coisa.

A irracionalidade restritiva do nosso sistema de poupança-crédito é vista como muito orgulho: excesso de regulação estatal, regras exageradas nas instituições, gerenciamento de risco de crédito que preventivamente diz não a tudo, subsídios cruzados, subremuneração dos investidores, baixa tecnologia aplicada no atendimento ao cliente e pouca concorrência no setor, etc.

Quem conhece a história sabe que é o mesmo pensamento que na época do Império se orgulhava do número reduzido de empresas registradas, que o mal do comércio desvirtuava poucos dos nossos.

A cultura errada não é a da população que faz cálculos apurados, mas da elite (dirigente e intelectual) que certa da sua iluminação vê seus tropeços como genialidade e os atos do dia-a-dia feito pelos pequenos proprietários como falta de esclarecimento.

Só por comparação, se você colocasse 1.000 reais hoje na poupança (recebendo os 0,526%a.m.) e tomasse, ao mesmo tempo, 1.000 reais em empréstimo pessoal (tipo de crédito barato, com garantias e justificativas válidas) pagando a média dos 3,18%a.m. daqui teria a seguinte situação (contas em papel de pão):

Deveria 6546,63 na conta do empréstimo.
Teria reservas de: 1.370,09 na conta da poupança.

Mas poxa vida! Tem algo errado aí.
Se fossemos pensar em 100% sobre o principal (1.000 reais) para cobrir as despesas com os inadimplentes, 100% sobre o principal para o lucro (com juros) da instituição (1.000 reais), 100% sobre o principal para o governo (com impostos) a diferença não poderia passar de 3.000 reais. Vale lembrar que 100% em qualquer uma dessas contas é um valor altíssimo, num país civilizado 10,20, 30% no máximo seria adequado.

Entretanto a diferença é de 5176,54 !!! Só sou eu que vejo que tem algo de muito errado nisso tudo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário