Dois mitos arrasam o desenvolvimento das ciências humanas.
1. Um deles é o mito da racionalidade perfeita. Seres humanos não são perfeitamente racionais (inteiramente lógicos todo o tempo). De fato, seres humanos são muito mais emocionais do que racionais (e mais instintivos do que emocionais). Rotinas, tradições, pré-conceitos, simplificações, mitos, lendas, narrativas, intuições, senso de importância, senso de pertencimento a grupos, afeições e desafetos entre outros governam uma imensa parte de nossas vidas.
2. Outro deles é o mito da irracionalidade perfeita. Seres humanos são biologicamente programados para serem racionais. Esta é nossa principal defesa natural às expensas de outras possíveis defesas encontradas em outros animais como garras e dentes afiados, veneno ou couro resistente. Como consequência não existe nada que nós façamos com razoável dose de voluntariedade que não envolva alguma reflexão racional. Nada feito em consciência é totalmente instintivo ou absolutamente emocional.
Com isto, qualquer estudo ou prática inter-humana precisa considerar que funções pré-racionais (emocionais e instintivas) em maior parte e funções racionais de apoio estão coexistindo em cada consideração, ação, interação e resposta humana. E se precisa compreender que os fenômenos comportamentais observados são resultados de complexas interações destes dois tipos de fatores.
Também é necessário atentar-se à satisfação de fatores essenciais e o nível de cada fator. Quanto mais essenciais e básicos à vida biológica forem os comportamentos, mais proporcionalmente reflexo-instintivos eles serão. Quanto mais abstratos e desassociados à sobrevivência imediata forem os comportamentos, mais proporcionalmente emocionais e intelectuais eles serão. A racionalidade é uma poderosa ferramenta evolutiva, mas todo esse poder custa imensas quantidades de recursos (foco, tempo, concentração, energias, utilização de "hardware" neuronal, etc) e as possibilidades da utilização da racionalidade são praticamente ilimitadas. Portanto, de cada indivíduo é exigido escolhas estreitas sobre em que aplicará sua racionalidade. A não ser que uma situação seja eleita importante em um determinado momento, apenas uma pequena quantidade de racionalidade estará influenciando o comportamento resultante. Logo, este será gerido preferencialmente por mais sistemas e respostas emocionais.
Uma outra dinâmica da questão é que uma forte insatisfação de fatores básicos à vida gera uma resposta contra-racional. Nestas situações o organismo luta para baixar e limitar o nível de racionalidade que foi incapaz alcançar níveis adequados para a sobrevivência futura e elege funções mais básicas instintivas para ajudar a retomar a normalidade. Por exemplo, é por este tipo de fenômeno que você passa quando toma alguma decisão com fome.
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