sábado, 20 de abril de 2013

Discurso da Semana: Atendimento no Sistema de Saúde

Por Renato Paulo Nicácio Pedrosa


Um amigo meu foi recentemente mal atendido no sistema de saúde mineiro.

Isso me deixou tão estarrecido que eu tive de escrever um discurso =D

Segue ele aí, para todos os meus leitores.

Meu amigo,

É uma hora sombria aquela que se apresenta quando o cidadão encontra-se desamparado pelos serviços de atenção em seu momento de maior fragilidade.

Estes são os riscos de sistemas demasiadamente coletivistas em que um homem torna-se apenas um meio deixando de ser tratado assim como ele é, um fim em si mesmo. É excessiva a interpretação asfixiante de que o interesse público pode ser alcançado sobre o massacre do interesse da pessoa humana. Só uma imensa ignorância não vislumbra que o interesse coletivo de todos é construído pela soma dos interesses individuais de cada um em nossa sociedade. Fora disso, fora do entendimento pluralista do direito individual, na compreensão de um todo sem as partes, só nos restará a tirania e a decadência humana.

Bem aventurados somos que possuímos e construímos, com suor e lágrima, uma nação benigna que nos permite a livre expressão do pensamento. E é na arte de nos expressarmos livres e desimpedidos de constrangimentos que construímos o desejo de um povo soberano. A liberdade de expressão não é tão maravilhosa apenas pelo gozo que há em de livre se expressar, o valor humano sem o qual não somos mais do que escravos do desejo do outro. A liberdade de expressar-se é tão gloriosa porque é através dela, e só através dela, construímos a opinião pública, a vontade cívica de nos auto-determinarmos e orientarmos nossos esforços enquanto interesse público para um futuro melhor.

E se o interesse público é tão importante, não o é porque é a vontade do Estado que torna o povo conforme seu desejo. Muito pelo contrário. O interesse público é tão importante porque é a vontade do povo, a soma das vontades dos indivíduos que compõem uma nação, que turva e conforma a vontade do Estado segundo seu interesse dando luz assim e somente assim a um futuro melhor.

Se reclama (o povo) não é porque seja inimigo do Estado, como não pode o homem antagonizar a ferramenta que o auxilia. Se reclama é porque molda através da crítica construtiva e acalorada como o homem que martela o ferro em brasa moldando a ferramenta que o auxiliará.

E o que quer o povo? Ele não quer favores, porque não os merece e não os deseja, pois os serviços públicos, incluindo o serviço de saúde, não são gratuitos – são custosos. Se não os paga diretamente é porque já os pagou antecipadamente através de impostos. Os pagou não só adiantado, mas também de maneira mais custosa. Não só porque pagando adiantado perdeu seus frutos entre o momento em que pagou e aquele que efetivamente usufruiu da contrapartida, nem porque a carga tributária extorsiva leva até parte do pão e quase toda oportunidade de lazer, tão pouco porque vê pouco retorno, mas é mais custoso porque é sem a opção de escolher se paga ou não, uma vez que o imposto é imposto, perde a liberdade de negociar e a capacidade de barganhar com o prestador de serviços podendo, inclusive, chegar ao absurdo de ser escamoteado pelo prestador de serviços que zomba de sua necessidade enquanto usufrui do dinheiro de seu trabalho, como ocorreu no caso acima mostrado.


Se não quer ser mal tratado e destratado, afinal, o que quer o povo?!


O povo: eu, você, ele, nós, queremos ser muito bem tratados, queremos ser bem cuidados por alguém que se importe com a nossa situação e mostre humanidade em nosso momento de debilitação. Queremos um serviço de saúde (e outros serviços públicos) que nos cuide e se importe conosco e com nossa situação, cientes que os serviços oferecidos não são gratuitos, eles são pagos, muito bem pagos e custosos.


Queremos um sistema de redes que sejam orientadas ao cidadão, não hierarquizadas. No qual após a nossa entrada em algum ponto de atenção, todo o sistema de saúde se sinta responsável por nossa condição, como realmente deve ser, e só nos deixe após nossa plena recuperação.

Em redes verdadeiras, após entrado em qualquer ponto do sistema, este colocaria o cidadão-cliente-usuário-pagador-de-impostos-paciente no melhor ponto de atendimento possível com as máximas eficiência, eficácia, efetividade e qualidade possíveis. No caso concreto, após dada a entrada no sistema, o mesmo deveria levar o paciente ao ponto de atendimento mais adequado através de um sistema de transporte não “ambulancial”. Levá-lo ao ponto de atenção e cuidá-lo e só então, depois de feito todo o possível e melhorado sua condição, deixá-lo retornar à sua casa cuidado e reconfortado. E isso tudo, se possível, feito por uma equipe multidisciplinar. Todo o processo tem por obrigação de ofício ter sido feito em interações plenamente respeitosas e totalmente voltadas para o atendimento ao interesse do cidadão-cliente-pagador-de-impostos-paciente. No final do processo a entrega não deve ser apenas um cidadão-indivíduo bem cuidado, amparado, acolhido e tratado, mas também satisfeito e, na medida do possível, feliz. Isto é responsabilidade do sistema de saúde.

E todos nós que lidamos com os serviços de saúde não devemos nos sentir atacados por reclamações, mas sim incomodados e desafiados a construir um serviço de saúde melhor e que seja digno dos nossos melhores esforços e de toda excelência que nossa nação pode propiciar.

Enquanto você, meu amigo, tem a minha solidariedade e o meu compromisso que junto a você eu farei o meu melhor para construir os serviços de saúde que nós tanto merecemos. E é certo que isto só se fará com algumas reformas. Se devemos aprofundar a boa obra já semeada, também devemos introduzir elementos novos como: avaliação de todo o serviço pelo cidadão, plena disponibilidade de informação transparente sobre o sistema e até mesmo elementos de competição em busca do melhor atendimento possível ao cidadão.


Juntos nós podemos muito mais!



Grande Abraço,

Renato Pedrosa

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