domingo, 2 de junho de 2013

Nota sobre o Problema da Indústria

Nosso problema industrial não é de preço baixo demais (o qual se corrigiria via desvalorização do câmbio, o que tornaria os importados mais caros e os exportados mais baratos - dando maior folga para o aumento dos preços aqui dentro), pelo contrário, o preço de nossos produtos industriais é absurdamente alto. O nosso problema industrial é de custo alto e baixo diferencial competitivo (falta de inovação). Se voltássemos à ideia de Michael Porter nós veríamos que não conseguimos alcançar nenhuma de suas estratégias genéricas (liderança de custo, diferenciação ou Foco). Não temos liderança de custo porque nossos custos são altos demais, Carga Tributária extremamente alta, imposto especial que só incide na atividade industrial (IPI) - qualquer analogia aos impostos de desincentivo, como os dos cigarros é mera realidade - e muitas disfunções burocráticas nos trâmites legais que torna super caro fazer qualquer coisa, principalmente mudar em qualquer direção. Não temos diferenciação porque por aqui não há quase integração nenhuma em pesquisa e desenvolvimento e trabalho industrial prático. E não temos foco porque decidimos construir uma indústria plenamente diversificada. Estamos no que Porter relata como atolados no meio, e lá não há vantagem competitiva e sem vantagem competitiva nós estamos condenados a perder mercado até a falência. Está tudo lá, páginas 16 e 17 de Competitive Advantage de 1985 (1985!!! Eu não tinha nem nascido e ele já havia descrito o processo do desafio industrial brasileiro do século XXI).


Mas o que o governo tenta fazer? Se a indústria brasileira não consegue se reorganizar e adotar uma estratégia que a leve ao sucesso (muito por causa da interferência desorganizadora de governo, é verdade), é o povo (principalmente o mais pobre) que deve construir sua vantagem. Primeiro forçar um fechamento do país aos importados (principalmente através da manipulação dos preços relativos via câmbio), isso criará uma estratégia focalizada do setor industrial brasileiro no público brasileiro que simplesmente não terá outra opção de compra (algo em torno de oligopólios). Vai funcionar, para a indústria, enquanto o país fica mais pobre, as famílias perdem renda, e o PIB diminui, os industriais terão alguma recuperação. Mas é isso mesmo o que queremos?


O caminho mais adequado, na minha opinião, seria adotar a estratégia que fosse via setor competitivo. Os nossos problemas de custo estão na produtividade da mão-de-obra (educação, educação e educação), na baixa competitividade dos fornecedores (pouca inserção nas cadeias competitivas internacionais), carga tributária pesada demais (para que um imposto só sobre o processo de industrialização? é para desincentivar a indústria?) e burocracia totalmente desfuncional (gasta-se mais tempo no Brasil para calcular e pagar os impostos do que praticamente qualquer lugar do mundo, sem contar nas licenças e outros entraves regulatórios desnecessários e/ou desfuncionais aos quais nós chamamos de burocracia enquanto pedimos, paradoxalmente, por mais regulação). Já nossos problemas de inovação estão na nossa total incapacidade de integrar de forma eficaz ciência e prática. Por fim nosso problema de foco está num cenário instável (com flutuações caóticas de incentivos produzidos pelo governo a todo o momento com excesso de ativismo sem direção clara) e no fato do despreparo técnico do nosso empresariado nacional.

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